“Tenho testemunhado, nos oito ou dez livros que até hoje publiquei, sobre a incompatibilidade radical entre o mundo dos Princípes e o mundo das gentes. Incompatibilidade, que à medida que vou avançando na elucidação do objecto da minha visão, me parece não só radical mas igualmente insanável, uma espécie de ferida marca distintiva que nos separa, entre os humanos, uns dos outros (…)
Essa ferida não separa os ricos dos pobres, nem os opressores dos oprimidos, nem se traduz em níveis de rendimento, mesmo se historicamente a divisão a que me refiro tomou essas formas várias de disfarce. Não, essa ferida separa os atentos e os distraídos, os mornos dos intensos, os necessitados de misericórdia e os orgulhosos. Se, no que até hoje escrevi, algo deva ficar, desejaria que fosse isto:
Há uma história silenciosa dos intensos que, porque necessitados de misericórdia, não impuseram aos seus congéneres as cadeias da explicação, nem miragens para o desejo. Gostaria que sobrevivesse a afirmação que nós somos epifanias do mistério, e mistério que nos nossos balbuciamentos se desenrola.”
Maria G. Llansol, Lisboaleipzig 1: o encontro inesperado do diverso, ed. Rolim, Lisboa 1994, pág. 85
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