Fundamentos

Advento

Emil Nolde, Sultry Evening (1946)

“Chegou a hora de despertarmos do sono,
porque a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçamos a fé.
A noite vai adiantada e o dia está próximo.
Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz”
(Romanos 13, 11-12).

Só a partir do dia 17, isto é, nove dias antes da celebração do Natal, é que a liturgia do tempo de Advento aponta de um modo mais explícito para a festa do nascimento do Salvador; até lá, a vivência deste tempo litúrgico (que terá início no próximo domingo) transporta-nos para o mistério da vinda definitiva de Cristo, da sua manifestação, do seu senhorio sobre a criação e a história.

O Novo Testamento conhece bem a linguagem do dia e da noite, do sono e do despertar. São numerosas as parábolas evangélicas neste sentido, que apresentam a vinda do Senhor ou do Noivo na exigência de que os discípulos O recebam despertos. Os leitores ou ouvintes destas passagens reconhecem a sua linguagem batismal: a morte para o pecado e a ressurreição para a vida nova correspondem à passagem da noite para o dia, das trevas para a luz. O cristão, para o Novo Testamento, é aquele que vigia.

Vigia, reconhecendo que as muitas luzes que o mundo oferece não conseguem dissipar as trevas que transporta em si. Vigia, sabendo que é necessário haver sempre uma reserva eucarística, um dom de si mesmo, uma presença, ainda que discreta. Vigia, aceitando que o mais importante da vida é frágil e necessitado de cuidados contínuos, seja o perdão, o amor, a escuta ou a beleza. Vigia, porque aguarda uma Palavra que ilumine, uma Palavra que aponta para o novo, o aberto e o tangente, uma Palavra que não se impõe, seja como parábola, como poema ou como prece.

As luzes e focos destes dias (do comércio, das chamadas “festas de natal”, das campanhas solidárias que tão depressa morrem como nascem) podem encadear-nos, não nos permitindo reconhecer a única Estrela que advém do Oriente – e que apenas na escuridão e no silêncio da noite se consegue discernir. Resta-nos a vigilância.

https://redemundialdeoracaodopapa.pt/blog/249

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