Fundamentos

Antologia Poética

Antologia Poética

Autor: Frei Agostinho da Cruz| Organização: Ruy Ventura
Edição: Licorne | Páginas: 304

O ano de 2019 marcou o quarto centenário da morte de Frei Agostinho da Cruz (1540-1619), data que a Diocese de Setúbal assinalou com diversas iniciativas. A publicação de uma Antologia Poética do frade franciscano, organizada por Ruy Ventura, foi uma dessas iniciativas, constituindo um contributo muito significativo para a literatura e a espiritualidade no contexto lusófono.

Natural de Ponte da Barca, de família nobre, Agostinho Pimenta ingressou na Ordem Franciscana na reforma empreendida por São Pedro de Alcântara e viveu como eremita no convento de Nossa Senhora da Arrábida, região de Setúbal. Foi nesse contexto que surgiu uma parte significativa da sua obra poética, timbrada pela beleza, por vezes difícil e selvagem, da natureza envolvente, pelos encontros e desencontros com os familiares e irmãos de comunidade que nem sempre compreenderam a sua opção de radicalidade e pela experiência de um Amor primeiro, de graça e de perdão, cujo quadro por excelência é a Cruz. Diversas composições poéticas de Agostinho de Cruz entraram no património litúrgico da Oração das Horas; agora, o leitor poderá acompanhar-se no seu caminho de oração com um testemunho ímpar da tradição espiritual cristã na nossa língua.

Da quietação

No silêncio da noite, em que vigio,
Desterrado da terra o pensamento,
No que dentro nest’alma represento,
Ora me aquento mais, ora me esfrio.

E pera temperar fogo com frio,
Em que m’esfrio mais, ou mais m’aquento,
Dos efeitos do puro sentido,
Na minha saudade choro e rio.
Depois destes contrários temperados
Na mor quietação, na mor brandura,
Meus pensamentos ficam sepultados.

Temperada a frieza na quentura
Do meu divino amor tão apurados,
Que me deixam em paz na sepultura.

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