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Em forma de homenagem, um mail que muito me honrou.
«Exmo. Senhor
Dr. Rui Pedro Rodrigues Vasconcelos
Braga
Lisboa, 7 de Junho de 2013
Caro Amigo,
Venho felicitá-lo pelo facto de ter sido o vencedor deste ano do Prémio da Liberdade Religiosa, com o trabalho “A Declaração Dignitatis Humanae: A visão católica da Liberdade Religiosa no II Concílio Vaticano”.
Infelizmente, não pude estar na cerimónia de entrega do Prémio, como gostaria. No entanto, não quero deixar de lhe transmitir as minhas mais sinceras felicitações pela atribuição merecida do Prémio.
Aceite as cordiais saudações do
Mário Soares»
«Apresenta‑me alguém que ame e compreenderá o que afirmo. Apresenta‑me alguém que deseje, que tenha fome, que se sinta peregrino e exilado neste deserto, que tenha sede e suspire pela fonte da pátria eterna; apresenta‑me um destes homens e compreenderá o que digo. Mas se falo a um coração frio, esse não pode compreender nada do que estou a dizer. Mostra a uma ovelha um ramo verde e verás como atrais a ovelha. Oferece nozes a uma criança e verás como vem ao teu encontro, correndo para onde é atraída; é atraída pelo amor, é atraída sem coacção física, é atraída pelos vínculos do coração.»
Agostinho de Hipona, Tratados sobre o Evangelho de João (26,4-6)
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De noite descias a escada misteriosa
Junto da pedra onde Jacob dormia.
De noite celebravas a Páscoa com teu povo,
Enquanto, nas trevas, caíam os inimigos.
De noite ouviu Samuel três vezes o seu nome
E em sonhos falavas aos santos Patriarcas.
De noite, num presépio, nasceste, Verbo eterno,
E os Anjos e uma estrela anunciaram a tua presença.
À noite celebraste a primeira Eucaristia,
No meio dos teus amigos na última Ceia.
De noite agonizaste no Jardim das Oliveiras
E recebeste o beijo frio da traição.
A noite guardou o teu Corpo no sepulcro
E viu a glória da tua ressurreição.
Na noite da nossa vida, com a luz da fé acesa,
Esperamos alegres a tua última vinda.
Hino de Completas (2ª feira)
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Aquele que reconhece o seu pecado
é maior do que aquele que ressuscita um morto…
Aquele que chora uma hora sobre si mesmo
é maior do que aquele que ensina o mundo inteiro…
Aquele que conhece a sua fraqueza
é maior do que aquele que vê um anjo…
Aquele que segue a Cristo em segredo e com arrependimento
é maior do que aquele que goza de grande reputação nas Igrejas…
Isaac, o Sírio (séc. VII d.C.), Logos n.º 34
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«Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida!
Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os milagres
que entre vós se realizaram,
de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na cinza.
Por isso, no dia do juízo,
haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós» (Lc 10,13-14).
Será um milagre motivo ou ocasião de penitência? Não será antes motivo de alegria, acção de graças ou louvor? Porquê a lamentação? Porque a ausência de tolerância, como se de uma responsabilidade se tratasse?
Será o milagre, então, não um acto de magia que todos possam ver, mas uma oportunidade, um tempo justo e belo de transformação, de libertação? Porque fazer penitência, vestir-se de saco e de cinza, é romper com a força das lágrimas e do amor as cadeias do egoísmo, da virtude, do orgulho e da opressão; e reconhecer, na beleza do rosto e do amor de Deus, como a debilidade pode ser sinal de Graça. Não se dará, aí, o maior milagre?
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(Mt 13, 44-46) Descobrir (estar atento), procurar, alegrar-se, negociar, vender e comprar… que parábolas poderão apontar a uma vida? Que verbos, que dimensões?
«Por isso, entrar na divina escuridão consiste em estender o olhar da mente e o ápice do afecto, através da mística teórica, até Deus».
(Bartolomeu dos Mártires, séc. XVI)
«Primeiro o espírito, eco
de sílabas e símbolos.
Depois o corpo, o mundo
na pele, porção irreal
de uma tão clara história.
O amor é a palavra.»
Ana Marques Gastão, «Nocturnos»
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“A saciedade não diminui por si mesma o desejo, mas aumenta-o, libertando-o de toda a ansiedade e pobreza. É o Amor, com efeito, que é amado, ele que, pela torrente do seu deleite, arranca daquele que ama toda a miséria, seja da saciedade o fastio, seja do desejo a ansiedade, seja do zelo a inveja. Ele os ilumina, como diz o Apóstolo, ‘de claridade em claridade’, porque na luz eles vêem a luz, e no amor eles concebem o amor.”
Guilhermo de Saint-Thierry, ‘A Contemplação de Deus’ (séc. XI: basta ler algumas páginas de um qualquer autor, seja um S. Bernardo, uma beguína holandesa ou um Ramon Llull para perceber, pela constante linguagem afectiva e poética, que a Idade Média não teve mais de ‘trevas’ do que qualquer outra Idade – incluindo a nossa).
No meu leito toda a noite procuro o amado de meu coração
procuro e não o encontro
é preciso que me levante e rodeie a cidade caminhos praças
busque aquele que meu coração ama
procuro mas não o encontro
descobrem-me os guardas que fazem ronda na cidade
vistes aquele que meu coração ama?
pouco me aparto deles logo encontro aquele que meu coração ama
abraço-o e não o solto
até fazê-lo entrar em casa de minha mãe no quarto daquela que me gerou
suplico-vos mulheres de Jerusalém pelas gazelas ou pelas corças selvagens
não despertem não desvelem o amor até que ele o queira.
Cântico dos Cânticos, 3,1-5
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Sento-te na minha perna, de costas encostadas a mim e com as minhas mãos na tua barriga; ficas sentada, a olhar para a luz que vem da janela, a procurar os dedos que queres levar à boca, a sorrir para a mãe que brinca contigo. Sentes-te agarrada, segura, na medida do que sou capaz. E possivelmente perguntarás: não vejo o pai; onde estará?
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“Na estética da não-resposta da resposta de Deus a Job, a ‘arte pela arte’ ou, melhor, ‘a Criação pela Criação’ exibe a sua enormidade perante a humanidade, a sua impertinência festiva. A recusa por parte da criação de se justificar ou explicar, a recusa por parte do oleiro de prestar contas à argila está implícita na tautologia da Sarça Ardente: ‘Eu sou o que sou’ ou ‘Eu Sou’. Tal é a recusa que explode no Livro de Job. O artista que Deus é não pode sequer conter na Sua imensidão as pressões da potência criadora.”
G. Steiner, Gramáticas da Criação, Lisboa 2001
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A PORTA
Oh, Porta!
Estás sempre aberta.
Mas os olhos do céu estão fechados…
Quem não sabe o que há no seu interior,
tem medo de entrar.
Oh, Porta!
Noite e dia o teu apelo solene nunca se cala,
Abres-te ao sol nascente,
E à noite, às estrelas.
Oh, Porta!
Da semente ao gomo,
Da flor ao fruto,
De uma a outra era,
Da Morte à Imortalidade,
Abres o caminho.
Oh, Porta!
A vida passa pelo umbral da Morte.
E de acordo com o seu mandato, na noite do desespero,
Ao longo do caminho do desespero
Ouve-se o apelo: ‘Não temas.’
R. Tagore, Poesia, Lisboa 2011
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“Confesso-vos que não sou insensível à tristeza: horroriza-me a morte, a minha e a dos demais.”
Bernardo de Claraval, Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, 26,9
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A rever as provas da tradução portuguesa: um privilégio.
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ORAÇÃO PARA ANTES DO ESTUDO
Dai-nos, Senhor, um coração humilde.
A inteligência de aceitar agora
que só a si o estudo se ilumine
e nele se esqueça o estudante. A cópia
do que estudarmos em nós viva, a fim de
que apenas o estudado seja porta.
E luz aberta por onde entrem livres
aqueles cuja alegria é obra
de compenetração que, sem limites,
se entrega. Fica com seu dentro fora.
Ilumina, Senhor, a inteligência de ir-se
esquecendo cada qual no que se mostra.
(de Fernando Echevarría)
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Charles de Foucauld
Pensa que morrerás mártir. Entre talhas
ao cair ressoará o teu corpo sobre o bojo.
Pensa que morrerás
esta tarde. Com o sangue no peito a marcar o umbral
Da tua morada. Nu morrerás
e desconhecido. Na terra só o adorno
possui o conhecimento
pensa que morrerás
no chão
à tua porta.
E nunca mais acabarás
de regressar
Daniel Faria, Poesia, Lisboa 2012
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O espírito divino é passividade pura
Não há qualquer tensão na sua atenção plácida
Ele é um silêncio e esse silêncio move-nos
a procurar a palavra mais digna de tão puro silêncio.
Ele é A Presença do presente e sem ser visível
é a visibilidade de tudo quanto vemos
à luz do seu olhar aberto e luminoso
Ele habita em nós mas na distância que há em nós
e preenche-a com o alvor do seu corpo indivisível
Só ele pode oferecer o esplendor da água
para nos banharmos na sua maternidade
Só ele poderá unificar o caos e a vertigem dos pensamentos
que nos impedem de ter a visão viva
da realidade que só à sua luz é a revelação da nudez
António Ramos Rosa, Poesia Presente, Lisboa 2014
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escuta
recolha-me para me dizer
escutando-te,
Deus das minhas pobres dissonâncias
empresta-me as asas do teu anjo
que me transportem ao deserto
derrama a água da tua misericórdia,
não o vinho da tua ira
sobre a minha cabeça
e dar-te-ei em todo o tempo graças,
Deus que vens do futuro
e para lá convocas os meus olhos
José A. Mourão, O Nome e a Forma
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