Maravilhas de Advento.
«A candeia não deve alumiar pelo seu esforço, se está já acesa, é a sua natureza; assim também o sal». (Ermes Ronchi)
«Que a tua meditação das coisas de Deus te leve a ser piedoso, bom, prudente, generoso, altruísta, doce, cordial, afável, magnânimo, et cetera. Efetivamente, manter a alma inviolável implica estar em sintonia com a vontade de Deus no exercício da virtude, não julgar ninguém, de ninguém dizer ‘aquele é mau e pecador’. Em vez disso é muito melhor ocuparmo-nos dos nossos próprios males e examinarmos a nossa conduta, se ela agrada ou não a Deus. Com efeito, o que é que tem a ver connosco a maldade de outrem? O outro é o outro e tu és tu».
Santo Antão, O carácter dos homens e da vida virtuosa, n. 86 (in Filocalia, ed. Paulinas 2017).
«Nós, Orientais, procuramos acomodar-nos aos limites que nos são impostos, que desde sempre nos satisfizemos com a nossa presente condição; consequentemente, não sentimos repulsa alguma pelo que é obscuro, resignamo-nos a ele como a algo inevitável: se a luz é fraca, pois que o seja! Mais, afundamo-nos com delícia nas trevas e descobrimos-lhes uma beleza própria. Pelo contrário, os Ocidentais, sempre à espreita do progresso, agitam-se incessantemente na procura de uma condição melhor que a actual».
Junichiro Tanizaki, O Elogio da Sombra
«Não será a carne – e não o Espírito, a Lei, a Verdade – a marca do Absoluto?»
E. Salmann
«Basta pensar só um bocadinho para perceber que não ter uma opinião (ou não ter ainda uma opinião formada) sobre todas as coisas é, menos do que uma prova de inteligência, uma banal mas inevitável característica da própria existência».
Miguel Esteves Cardoso (https://www.publico.pt/2017/09/27/sociedade/cronica/pensar-e-nao-saber-1786742)
Em Lisboa
de manhã na sinagoga
na mesquita
na igreja de Arroios
uma mulher
a aspirar
TEMPOS
Dizia-se: não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.
E as tradutoras da Condessa de Ségur escreviam:
O que não se faz
dia de Santa Maria
faz-se noutro dia
Devo tudo à condessa de Ségur.
Adília Lopes, Manhã
«Enquanto os homens reflectem há séculos sobre como devem conservar, melhorar e tornar mais seguros os seus conhecimentos, faltam-nos até mesmos os princípios elementares de uma arte da ignorância. A epistemologia e a ciência do método investigam e fixam as condições, os paradigmas e os estatutos do saber, mas não há receitas que nos digam como seria possível articular uma zona de não conhecimento. Articular uma zona de não conhecimento não significa, com efeito, simplesmente não saber: não se trata aqui somente de uma falta ou de um defeito. Significa, pelo contrário, mantermo-nos na relação justa com uma ignorância, deixar que um desconhecimento guie e acompanhe os nossos gestos, que um mutismo responda limpidamente pelas nossas palavras. Ou, para usarmos um vocabulário caído em desuso, que aquilo que nos é mais íntimo e melhor alimenta tenha a forma não da ciência e do dogma, mas da graça e do testemunho. A arte de viver é, neste sentido, a capacidade de nos mantermos numa relação harmoniosa com aquilo que nos escapa». (G. Agamben).
Há frases surpreendentes:
«Maria cumpriu, e cumpriu perfeitamente, a vontade do Pai;
e, por isso, Maria tem mais mérito
por ter sido discípula de Cristo
do que por ter sido mãe de Cristo;
mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo
do que por ter sido mãe de Cristo.
Também Maria era feliz porque ouviu a palavra de Deus
e a pôs em prática;
guardou mais a verdade de Cristo na sua mente
do que o corpo de Cristo no seu seio.
Cristo é verdade; Cristo é carne.
Cristo é verdade no espírito de Maria,
Cristo é carne no seio de Maria;
é mais o que está no espírito
do que o que se traz no seio.
É uma só, na verdade, a herança.
Por isso, a misericórdia de Cristo,
que sendo único não quis ficar só,
fez de nós herdeiros do Pai
e herdeiros consigo».
Agostinho de Hipona, Sermão 25 (leitura para a festa da Apresentação de Maria, 21 de Novembro).
«A oração é feita para nos converter, para nos transformar em energia. Para que nos tornemos seres contagiosos».
«Viver a caridade não é apenas dar, é ter sido ferido, é estar ferido pelo ferimento do outro. Também é unir todas as minhas energias às dele para juntos nos curarmos do seu mal, que passou a ser meu».
«Sorri àqueles que te trazem os teus medicamentos. Dá, nem que seja apenas isso. Talvez lhes tenhas oferecido um acréscimo de energia para cumprir deveres difíceis, a eles, que se podem mexer. Tu, na tua imobilidade, pensa que tudo o que se oferece chega ao infinito. Mesmo na doença, na evidência de que não se pode mais nada, que não se fará mais nada… Também tu podes fazer alguma coisa!» (Abbé Pierre).
Desacostumados da coragem
exilados do prazer
vivemos enrolados em conchas de solidão
até que o amor deixe o seu alto templo sagrado
e entre na nossa visão
para nos libertar.
O amor chega
e na sua esteira vêm êxtases
velhas memórias de prazer
e de dor.
Se formos corajosos,
o amor atira fora as correntes do medo
das nossas almas.
Desabituados da nossa timidez
com a onda de luz do amor
passamos a ser corajosos
e a ver
que o amor custa tudo o que somos
e viremos a ser
que só o amor
nos liberta.
Maya Angelou, Tocada por um anjo (trad. Jorge Sousa Braga, in Sombras Brancas, 2017).
Eventualmente, o correio oferece-nos pequenas pérolas.
«Há, irmãos, um imperativo que não podemos contornar. E que nos diz esse imperativo? Diz-nos que se nos impõe um regresso de nós mesmos a nós mesmos. Há um caminho de reconciliação e união com Deus: esse caminho único começa, antes de mais nada, por nos conduzir a nós mesmos».
(Nicéforo o Monge, séc. XIII)
«É humano irritar-se – e oxalá nem pudéssemos fazê-lo -, é humano o irar-se,
mas a tua ira, que nasce como rebento pequeno,
não deve ser regada com suspeitas
e levada à grossura de trave tornando-se em ódio».
(Agostinho de Hipona, Sermão 211)
«Portanto, toda a alma que fizer caso de todo o seu saber e engenho para se unir à sabedoria de Deus é sumamente ignorante diante de Deus e está muito longe dela. A ignorância não sabe o que é a sabedoria e, como diz S. Paulo, esta sabedoria mais parece a Deus uma loucura. Os que julgam ter algum saber são, diante de Deus, muito ignorantes.
Assim, para que a alma chegue a unir-se com a sabedoria de Deus, mais há-de ir não sabendo do que sabendo».
(João da Cruz, ‘Subida do Monte Carmelo’, I,IV,5)
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