Fundamentos

Jardinar

I – Um brevíssimo passeio pela ciência do jardinar

Hoje vamos passear pelo jardim, pela horta, pela natureza – de mãos dadas com a ciência, pois claro! Neste artigo, quando falamos em jardinar, pensamos também em podar, cultivar, semear, plantar… em todos os verbos que nos levam a pôr as mãos na terra e tratarmos de outro ser vivo, quer seja uma flor, uma planta ou uma árvore. O tema é quase tão antigo quanto o ser humano, e neste artigo não estamos a pensar em jardinar como uma ação gerida pelo nosso cérebro de caçador-recolector. Apesar de Steven Pinker, professor de Psicologia na Universidade de Hravard (EUA) sugerir que o ser humano se começou a interessar por flores porque indicavam comida no futuro, por exemplo, em forma de fruta ou frutos secos. Contudo, hoje viajamos para um cérebro de pensamento lento de que nos fala Lambert Maffei no seu Elogio da Lentidão, e que já falámos noutros Verbos da Salvação. O mesmo que levava o filosofo Imannuel Kant (1724-1804) a usar flores como exemplo de beleza “livre”, a beleza à qual respondemos independentemente do seu valor cultural ou da sua utilidade. Será um certo desejo de parcimónia? 

De Bento de Núrsia a Hildegarda de Bingen…

Uma das primeiras descrições dos efeitos terapêuticos da jardinagem e das suas atividades chega-nos de Bento de Núrsia (c. 480-547) onde descreve como o doente retira força da beleza da natureza. Bento de Núrsia, o grande São Bento, e os beneditinos são descritos como responsáveis por grande parte do trabalho restaurador das terras erodidas deixadas pelo domínio de Roma. Um mosteiro beneditino tinha por norma vinhas, pomares e parcelas de terra destinadas ao crescimento de vegetais, flores e plantas aromáticas. Um vergel! São Bento acreditava que a vida do espírito tinha que estar fundamentada numa relação com a terra. Seis séculos depois, ali pelo século XII, surge Hildegarda de Bingen, doutora de Igreja, monja, compositora, teóloga e respeitada herbalista na época. Hildegarda, considerada uma visionária, acreditava que havia uma ligação inevitável entre a saúde do planeta e a saúde física e espiritual do ser humano. Hildegarda colocava no centro do seu pensamento a natureza, apontando que só se pode prosperar quando o mundo natural também prospera. Hoje é considerada por muitos como uma precursora do movimento moderno ecológico.

Como da horta de um mosteiro nasceu a matemática da hereditariedade…

«Ai filha tens a cor dos olhos teu pai!»; «pela pinta deves ser neto de fulano»; «és a cara chapadinha da mãe»; «a doença é de família». Hoje falamos de código genético, fenótipos e genótipos, alelos recessivos e dominantes, e a genética é um mundo fascinante cujos fundamentos nasceram num jardim de um mosteiro da atual República Checa. 

As ervilhas (as Psium Sativum) estão de volta! No Verbo da salvação «Escutar e Ouvir» falámos de como as ervilhas “ouvem” através das vibrações; desta vez vamos aflorar como foram importantes para o nascimento da genética. Não nos poderíamos esquecer, neste verbo da salvação, do agora clássico Mendel, cujo trabalho pioneiro científico só foi reconhecido pelos seus pares postumamente em 1900. Durante o século XX e até 2008 (ainda!), há cientistas que discutem acaloradamente se o trabalho de Mendel é escrupulosamente rigoroso ou não. Gregor Mendel foi um frade agostiniano que viveu entre 1822 e 1884. Desde pequeno que gostava de plantas, e no mosteiro estava encarregue dos seus jardins. Entre 1856 e 1863 desenvolveu as suas experiências com o que tinha à mão: terra e ervilhas. O que ele é que ele estudou nas ervilhas? O que podia observar sem grandes instrumentos: a altura da ervilheira, forma e matiz do tegumento da semente, a cor e a posição da flor da ervilheira, a forma e a cor da vagem. 

O que é que ele descobriu depois de tantos anos de estudo, a rondar as 30 mil plantas e a de ter desenvolvido 22 variedades de ervilheiras? Mendel primeiro começou com cruzamentos monohíbridos, desenvolveu previsões estatísticas das características herdadas que depois estudou com cruzamentos mais complexos. E por fim, com a ajuda da matemática, Mendel desenvolveu para a área da biologia métodos estatísticos que conseguem prever características hereditárias. Claro que os agricultores já faziam cruzamentos de espécies há uns bons milhares de anos, e claro que nem todos os organismos transmitem os genes da mesma forma que as ervilheiras, mas o que é importante reter é que a matemática derivada do estudo das ervilheiras do monge Mendel é usada para explicar as características hereditárias, ajudando a salvar vidas…

Como a ciência estuda os efeitos da jardinagem… 

Apesar ser quase tão antigo quanto o ser humano, é de tão difícil aproximação para a ciência medir efeitos concretos em parâmetros fisiológicos, que o consenso não é geral.  Já sabemos que a ciência gosta de quantificações, estudos que possam ser reproduzidos noutra parte com os mesmos resultados: quando se varia alguma coisa, a outra responde de determinada forma. Tal como vimos no Meditar, não é fácil neste tipo de experiências isolar determinadas variáveis para medir apenas como se comporta outra.

Em geral, a ciência distingue as atividades de jardinagem das atividades de horto-frutículas. Há um artigo de revisão publicado em 2020, liderado por Michelle Howarth da Universidade de Salford (Reino Unido) onde se analisam estudos publicados quer em atividades de jardinagem, quer em atividades horto-frutículas. A questão fundamental que tem por base este artigo é: há evidências robustas, baseadas em modelos lógicos e quantitativos, de que a jardinagem e as atividades relacionadas possam servir de base a decisões estratégicas na área da saúde? Que evidências existem de que os jardins beneficiam a saúde física e mental e o bem-estar geral? A ideia da jardinagem como atividade salutar não é nova. O que é novo é a necessidade de padronização dos estudos para promover a jardinagem como medida de saúde e bem-estar. Em termos fisiológicos foram reportadas melhorias nos níveis de açúcar no sangue, no nível de cortisol (hormona diretamente envolvida no stress), no ritmo dos batimentos cardíacos, no nível de lípidos no sangue, melhorias na pressão arterial (sistólica e diastólica), no índice de massa corporal, nos parâmetros analisados na urina. Em termos de saúde mental descobriu-se que ter uma horta ajuda a combater o stress, a depressão e as perturbações de stress pós-traumático. Atenção, não estamos a falar de agricultura de sobrevivência (não é disto que se trata). A comunidade científica que estuda este campo sente necessidade de estudos cada vez mais rigorosos, de modo a haver um consenso em termos de dados quantitativos e qualitativos, para que se possam cada vez mais implementar medidas concretas nesta área. 

Sue Stuart-Smith, psiquiatra e psicoterapeuta britânica, tem um livro recente apaixonante: The Well Gardened Mind – Rediscoveing nature in the modern world (já traduzido em espanhol), onde explora os efeitos reais da natureza na nossa saúde e bem-estar. De uma forma brilhante combina a história, a neurociência, a psicologia e a psicanálise com casos reais da sua vida e prática clínicas. O livro mostra-nos aquilo que vimos a constatar: num mundo excessivamente urbanizado (onde existe uma relação entre a falta de espaços verdes e o aumento da criminalidade), onde predominam as tecnologias ininterruptas, redescobrir a relação com a terra e com a natureza pode ajudar-nos a navegar pela vida. Sue acredita que jardinar pode em si ser uma forma de ritual, que transforma a realidade externa e dá origem à beleza não só à nossa volta, mas também dentro de nós, através do seu significado simbólico. Um jardim põe-nos em contacto com uma gama de metáforas que moldaram profundamente a mente humana durante milhares de anos, metáforas que de tão profundas estão quase escondidas no nosso pensamento.

Seguramente apreciar a beleza de um jardim ou de um vergel, comer um damasco da árvore, sentir o calor, o frio ou a humidade da terra nas mãos, os sons que nos rodeiam, a água a entrar na terra, prestar atenção ao pessegueiro que nos retribui em aroma depois de o regarmos, dar forma a uma árvore ou a umas hidranjas, ou o aroma inconfundível e a cor vibrante das frésias, das magnólias ou das amendoeiras a anunciar a primavera, ou mesmo tratar das plantas lá de casa, sejam umas sardinheiras, umas orquídeas ou uma aromáticas… só pode fazer bem!

II – Uma poética bíblica do jardim

A linguagem bíblica gosta de trabalhar com símbolos, com metáforas ou imagens que povoam o imaginário de quem lê e de quem escuta. Quem não encontra na sua memória, fechando os olhos, a imagem de um jardim primitivo, seja o de um paraíso primordial, seja o de uma casa de infância na aldeia, seja o de um parque perto da escola, na cidade? São imagens que suscitam sentimentos ou emoções de saudade ou nostalgia de lugares que já não existem ou aos quais já não se regressa, de enlevo pela beleza de que se desfrutava, de confiança por tudo nos ser dado e apresentado, sem nada nos exigir em troca…

O crente que, debruçado na Bíblia ou escutando-a no seu espaço familiar ou celebrativo, escute a palavra jardim será transportado para esse mundo mágico, de beleza mas também de perda (perda da etapa da infância, ficando as memórias), de maravilhamento mas também de sofrimento (da perspetiva do trabalho e da luta pelo alimento). Há verbos que, paradoxalmente, têm uma conotação mais passiva do que ativa: ao contrário, por exemplo, do verbo cultivar e de toda a sua envolvência agrícola, o verbo jardinartrabalha não só, em muitas situações, com elementos que já existem e que a natureza proporciona, como não tem, na maioria das vezes, uma finalidade de produção ou de lucro. Um jardim sacia, mas não sacia o ventre. Talvez seja, por isso, um espaço de lazer, de desfrute ou de contemplação, ao passo que a horta ou o campo são os espaços da necessidade e do trabalho.

Na Bíblia surge-nos, à primeira vista, um paradoxo: os jardins não são, normalmente, criados por mão humana. Ou, pelo menos, tal criação não é narrada. Ao contrário das sementeiras e das colheitas, do comércio, da pastorícia ou da edificação de vinhas, nos jardins bíblicos as personagens são introduzidas ou apresentadas. Tais personagens assemelham-se um pouco a crianças que encontram um mundo já constituído e nele procuram habitar, criando interações rituais com os diversos objetos existentes segundo dinâmicas de investimento. Talvez por isso a imagem de um jardim no qual a água brote em abundância seja imagem da Terra Prometida ou do Reino dos Céus, para um povo que, na sua origem, tem a matriz das tribos nómadas do deserto. 

A esta beleza, os textos bíblicos associaram – um facto comum à pluralidade das culturas, quer no tempo bíblico, quer no nosso – ao espaço do jardim a experiência da relação amorosa, conjugal ou de noivado: o jardim como espaço de encontro ou de enamoramento é algo comum também aos nossos dias. O verbo jardinar torna-se assim, paradoxalmente, sinónimo do verbo amar. O mistério do amor humano tem lugar nas páginas bíblicas e é por estas elevado a símbolo da relação de Deus com o seu povo: talvez por isso, pela presença tão humana nestas páginas, se explique o porquê do nosso afastamento delas.

No jardim da Páscoa

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. (…) Junto ao túmulo, da parte de fora, Maria estava a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo, e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. Perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?» E ela respondeu: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram.»

Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta que era Ele. E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o encarregado do horto, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que o tiraste, diz-me onde o puseste, que eu vou buscá-lo.» Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» – que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus.’» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito (Jo 20, 1.11-18).

Comecemos, desta vez, pelo final: pelo Novo Testamento. Afinal ele é, para a grande maioria de nós, a porta de entrada, o primeiro anúncio da fé, a que depois se seguirá – se a vida assim o permitir e convidar – a descoberta do Primeiro Testamento. É, de facto, aqui que tudo começa, no anúncio ou testemunho que escutamos, de que o Senhor ressuscitou. O Evangelho de João tem a particularidade de situar num jardim o lugar da crucifixão de Jesus e o sepulcro onde o seu corpo é depositado. A tal ponto que Maria Madalena, a discípula, confunde o Ressuscitado com o jardineiro, num jogo de equívocos muito comum no Evangelho de João: numa asserção aparentemente equivocada ou mal-intencionada, a personagem diz uma verdade acerca de Jesus. Ele é, de facto, o Jardineiro, ainda que a discípula não o compreenda de imediato em toda a sua verdade: o Ressuscitado é o Senhor da vida e da morte, do espaço em tudo o que de pior o ser humano pode fazer, e do mesmo espaço onde a vida divina pode brotar; é o Senhor que converte da morte para a vida não só o tempo, mas também o espaço.

Uma literatura de tipo mais sensacionalista aponta a hipótese de um romance entre Jesus e Maria Madalena, equivocadamente confundida na tradição com a personagem feminina de Lc 7, 36-50 que ungiu, perdoada, os pés de Jesus. As fontes históricas não transmitem qualquer indício desta hipótese, não tendo havido, por outro lado, motivos para a ocultar (na tradição profética e rabínica de Israel o celibato era comum, mas não era a regra). Mas há uma verdade de fundo que o Evangelho de João convida a contemplar ao longo das suas páginas, desde as Bodas de Caná até ao relato do Lava-pés, do encontro com Maria Madalena até à tripla confissão de Pedro («Pedro, tu amas-me?»): o encontro com o Ressuscitado é também um caminho afetivo que envolve uma busca e uma perda, um desejo e um encontro.

Uma história de aliança – e ser discípula ou discípulo de Jesus é viver também uma história de aliança – é um contínuo processo de reconhecimento do Outro, sempre diferente e sempre um mistério. Quando, neste belíssimo relato, Maria vive um caminho de perda, de desencontro e de reencontro, está na verdade a contar a história de qualquer discípulo. Porque é nos caminhos e desencontros, nas perdas e buscas, no desejo de abraçar e na necessidade de deixar partir que qualquer um de nós constrói o jardim das suas relações, da sua família, das suas amizades e da sua vida de aliança. E é nesse jardim, não fora, que o Ressuscitado escreve uma história com cada um dos seus discípulos.

No jardim do Cântico dos Cânticos

Aonde foi o teu amado,
ó mais bela das mulheres?
Aonde foi o teu amado?
E nós o buscaremos contigo.
O meu amado desceu ao seu jardim,
ao canteiro dos aromas,
para apascentar nos jardins
e para colher lírios.
Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim,
ele é o pastor entre os lírios. (Ct 6, 1-3)

No final do primeiro século da era cristã, quando as comunidades dos discípulos de Jesus se multiplicavam no mundo mediterrânico, uma assembleia rabínica de Israel declarava solenemente que o livro do Cântico dos Cânticos fazia parte integrante das Escrituras, definindo a sua leitura na celebração do dia de Páscoa. Facto paradoxal para um livro bíblico onde só por uma vez é enunciado o nome de Deus, mas que canta os encontros e desencontros do amor humano. Terá sido, certamente, um dos livros bíblicos mais comentados ao longo da tradição cristã, desde Orígenes (século III) até Bernardo de Claraval, na Idade Média, chegando a Teresa de Ávila (o seu confessor ordenou a Teresa que destruísse o manuscrito dos seus Pensamentos sobre o Amor de Deus, o que a santa cumpriu; felizmente, uma outra versão, mais reduzida, chegou até nós). 

Cântico dos Cânticos é um livro breve, de oito capítulos, que podemos encontrar nas nossas Bíblias no conjunto dos escritos sapienciais. O jardim é uma metáfora ou mapa de buscas, desencontros e reencontros entre dois amantes. Quer a tradição judaica, quer a tradição cristã reconheceram no diálogo de amor humano uma densidade e abertura divinas. Também os profetas de Israel utilizarão a linguagem amorosa (com a sua beleza mas também com os seus dramas, com as suas alegrias mas também com as suas perdas) para narrar a Aliança de Deus com Israel, tradição que chegará ao Novo Testamento e à relação de Cristo com a Igreja. 

O jardim surge, no Cântico dos Cânticos, como um lugar já estabelecido, um espaço ou cenário que, como num sonho, as personagens são introduzidas e o preenchem com os seus desejos e aspirações. A leitora e o leitor que tiverem a generosidade de percorrer este Cântico encontrarão elementos naturais, seres da criação e ambientes citadinos, ambientes nos quais qualquer relação de aliança tem de conviver. Nuns momentos serão elementos de proteção e cuidado a essa aliança, noutros serão elementos de controlo e de dificuldades. Não existe o amor em estado puro ou idílico: existe apenas nas circunstâncias, jardins ou cidades que cada um habita, com as suas possibilidades e condicionantes.

«Grava-me como selo em teu coração, como selo no teu braço, porque forte como a morte é o amor», diz o Cântico (Ct 8, 6); e o Novo Testamento dirá: «Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor» (1Jo 4, 7-8). Frases fortes, densas, que nos transportam para o coração da aliança bíblica, transpondo as camadas moralistas com que sobrecarregamos esta história de salvação. Na linguagem pura e cristalina – ainda que pouco tranquila! – do Cântico, capaz de ferir os nossos ouvidos porque isenta de qualquer moralização, a tradição espiritual judaica e cristã reconheceu a narrativa de Deus com o seu povo. Exemplo que conduz o crente, para lá de todas as sobrecargas moralizantes, ao lugar – ao jardim – da sua história de aliança. Trabalho exigente e fecundo.

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