Byung-Chul Han | Ed. Relógio d’Água | 152 págs.
O filósofo sul-coreano (radicado na Alemanha) Byung-Chul Han é já conhecido do público português através da publicação de numerosos dos seus diretos e incisivos ensaios, onde a presença da pessoa numa sociedade híper-digitalizada é refletida e colocada em questão. Agora, em Louvor da Terra, é-nos possibilitada uma abordagem diferente e original, fruto da experiência do autor com o trabalho de jardinagem.
Louvor da Terra é um conjunto de breves meditações em torno a um jardim comunitário, onde os ritmos e caraterísticas de cada flor são registados e acolhidos pelo autor com uma atenção verdadeiramente oriental (ou monástica), centrada na busca de cada simples elemento, mesmo do nome técnico de cada flor. Há também espaço para rápidas reflexões ou chamadas de atenção para o nosso modo de viver ocidental, ruidoso, poluído e artificial; mas a filosofia reconhece aqui a sua vocação de amor ao belo, à beleza e à bondade, de ligação com o trabalho natural, com o respeito dos passos e mudanças que a fragilidade de uma flor (e de cada pessoa) pede àquele que busca a sabedoria.
«Gostaria de me desprender de mim no sono, para me tornar ninguém, um ser anónimo. Seria uma redenção. Hoje, só nos ocupamos do ego. Todos queremos ser alguém, todos querem fazer-se notar, todos desejam ser autênticos, diferentes dos restantes. Por isso, são todos idênticos. Sinto a falta de seres anónimos. […] Hoje temos muito que dizer, muito que comunicar, porque somos alguém. Perdemos o hábito quer do silêncio, quer de nos calarmos. O meu jardim é um lugar do silêncio. No jardim, crio silêncio. Estou à escuta […].
A digitalização aumenta o ruído da comunicação. Não só acaba com o silêncio, mas também com o táctil, com o material, com os aromas, com as cores fragantes e, sobretudo, com a gravidade da terra. A palavra humano vem de húmus, terra. A terra é o nosso espaço de ressonância, que nos enche de felicidade. Quando abandonamos a terra, a felicidade abandona-nos».
A criação retoma, na vida particular do filósofo, o seu caráter divino, pedindo a aprendizagem do esmero, do louvor e da gratidão. Nota-se ao longo do texto (no final, fica a dúvida) que se trata de uma experiência provisória, de um jardim que foi cedido ao autor para este o cuidar, dando-nos a conhecer uma outra faceta da sua escrita: na mesma sintética e realista, mas aberta a uma esperança que brota dos ritmos da Natureza. Um livro bom e belo (também pelas suas dignas ilustrações), um convite à contemplação.
«O trabalho de jardinagem foi para mim uma meditação silenciosa, um demorar-me no silêncio. Era um trabalho que fazia com que o tempo parasse e se tornasse fragante. Quanto mais tempo trabalhava no jardim, mais respeito sentia pela terra e pela sua inebriante beleza. Tenho desde então a convicção profunda de que a terra é uma criação divina. (…) Algumas das linhas deste livro são preces, confissões, até mesmo declarações de amor à terra e à natureza».
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