Fundamentos

Tempo de silêncio

Tempo de Silêncio

Patrick Leigh Fermor | Edição: Tinta da China

A história deste livro começa quando Patrick Leigh Fermor (1915-2011) — escritor, historiador e soldado britânico — procura um lugar barato e silencioso onde possa escrever, surgindo, por recomendação, a possibilidade de ser hóspede numa abadia beneditina. O autor oferece-nos uma viagem histórica, geográfica e pessoal pelas abadias de Saint Wandrille de Fontanelle, Solesmes e La Trappe em França, terminando na Anatólia, atual Turquia, nos mosteiros da Capadócia.

De que modo as rotinas das comunidades monásticas beneditinas e cistercienses, onde se hospeda o autor, influenciam o seu estado de espírito? Que marcas deixa o silêncio? Como se passa da imagem de um “enorme túmulo, de uma necrópole” para um lugar de refúgio? E a vida cisterciense, por que lhe suscita admiração e perplexidade? E os mosteiros da Capadócia, de que formam o interpelam? Quais são as impressões que recolhe e como evoluem? Patrick Fermor proporciona-nos uma leitura no confronto entre a vida secular e o isolamento e oração que observa, entre o que já dizia, em meados do século passado, ser um ruido absurdo e o anonimato dos hábitos.

O livro entrelaça os relatos da vida monástica, que o autor vai vivenciando, com a história das abadias. Torna-se interessante notar os dados históricos das rotinas da vida monástica antes do Concílio Vaticano II, assim como acompanhar a surpresa do autor em relação aos monges beneditinos que, “de figuras bidimensionais em telas da contrarreforma”, se revelam semelhantes “a qualquer francês civilizado e culto, com todo o equilíbrio, erudição e graça esperados – a única diferença residia na amabilidade, na ausência de pressa e na calma”.

Repleto de referências a autores, poetas e pintores, o livro mergulha-nos num tempo de silêncio certamente enriquecedor; e a vida monástica surge, nos seus paradoxos, como uma voz emprestada, com a qual esse silêncio, ainda hoje, nos interpela.

Adelaide Miranda (in Mensageiro de Santo António, Outubro de 2018)

 

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