Se os profetas arrombassem
as portas da noite,
fazendo brilhar de ouro as órbitas de estrelas percorridas
nas palmas das mãos –
para os que há muito mergulharam no sono –
Se os Profetas arrombassem
as portas da noite
rasgando feridas co’as suas palavras
nos campos da habituação,
trazendo algo de muito remoto
para o jornaleiro
que há muito já não espera ao anoitecer –
Se os Profetas arrombassem
as portas da noite
e buscassem um ouvido como uma pátria –
Ouvido da Humanidade
fechado de ortigas,
ouvirias tu?
Se a voz dos Profetas
soprasse (…)
Ouvido da Humanidade
ocupado c’o mesquinho escutar,
ouvirias tu?
Se os Profetas
irrompessem co’as asas de tempestade da Eternidade
se te arrombassem os tímpanos co’as palavras:
Qual de vós quer fazer guerra contra um mistério
quem quer inventar a morte da estrela?
Se os Profetas se erguessem
na noite da Humanidade
como amantes que buscam o coração do amado,
Noite da Humanidade,
terias tu coração pra perdoar?
Nelly Sachs, «Poemas», trad. Paulo Quintela, Lisboa 1967
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