Fundamentos

Domingo XXVI do Tempo Comum

Aprender a não fazer distinções, a não recusar um copo de água, a cortar tudo o que é motivo de desumanização… O texto de Marcos, com um comentário de José A. Pagola: bom fim-de-semana!

Um Copo de Água

«Disse-lhe João: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome, alguém que não nos segue, e quisemos impedi-lo porque não nos segue.» Jesus disse-lhes: «Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim.

Quem não é contra nós é por nós. Sim, seja quem for que vos der a beber um copo de água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.

E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar.

Se a tua mão é para ti ocasião de queda, corta-a; mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena, para o fogo que não se apaga, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. Se o teu pé é para ti ocasião de queda, corta-o; mais vale entrares coxo na vida, do que, com os dois pés, seres lançado à Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de queda, arranca-o; mais vale entrares com um só no Reino de Deus, do que, com os dois olhos, seres lançado à Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga.»

Marcos 9,38-48

O quadro é surpreendente. Os discípulos aproximam-se de Jesus com um problema. Desta vez, o porta-voz do grupo não é Pedro, mas João, um dos irmãos que procuram os primeiros lugares. Agora pretende que o grupo dos discípulos tenha o exclusívo de Jesus e o monopólio da sua acção libertadora.

Vêm preocupados. Um exorcista, não integrao no grupo, está a expulsar demónios em nome de Jesus. Os discípulos não se alegram que as pessoas fiquem curadas e possam iniciar uma vida mais humana. Apenas pensam no prestígio do seu próprio grupo. Por isso, trataram de cortar pela raíz a sua actuação. Este é o seu único motivo: «não é dos nossos».

Os discípulos pressupõem que, para actuar em nome de Jesus e com a sua força curadora, é necessário ser membro do seu grupo. Ninguém pode apelar a Jesus e trabalhar por um mundo mais humano, sem formar parte da Igreja. É realmente assim? O que pensa Jesus?

As suas primeiras palavras são claras: «não o impeçam». O Nome de Jesus e a sua força humanizante são mais importantes do que o pequeno grupo dos seus discípulos. É bom que a salvação doada por Jesus se estenda para além da Igreja estabelecida e ajude as pessoas a viver de um modo mais humano. Ninguém a pode ver como uma concorrência desleal.

Jesus rompe com toda a tentação sectária dos seus seguidores. Não constituiu um grupo para controlar a sua salvação messiânica. Não é um rabi de uma escola fechada mas é o Profeta de uma salvação aberta a todos. A sua Igreja haverá de apoiar o seu Nome onde ele for invocado para fazer o bem.

Jesus não quer que os seus seguidores falem em termos de «são dos nossos» ou «não são dos nossos», «os de dentro» e «os de fora», os que podem agir em seu nome e os que não o podem fazer. O seu modo de ver as coisas é diferente: «Aquele que não está contra nós está a nosso favor».

Na sociedade moderna existem muitos homens e mulheres que trabalham por um mundo mais justo e humano sem pertencerem à Igreja. Alguns nem são crentes, mas estão a abrir caminhos ao Reino de Deus e à sua justiça. São dos nossos. Temos de nos alegrar em vez de os olharmos com resentimento. Temos de os apoiar em vez de os desqualificar.

É um erro viver na Igreja vendo hostilidade e maldade em toda a parte, crendo ingenuamente que apenas nós somos os portadores do Espírito de Jesus. Ele não nos aprovaria. Convidar-nos-ia a colaborar com alegria com todos os que vivem de uma maneira evangélica e se preocupam com os mais pobres e necessitados.

José A. Pagola (www.feadulta.com)

Sugestão: «Cada Copo de Água Conta», por António Couto

Comentários www.feadulta.com:

Salmos e Preces | Anáfora | «Os nossos escândalos», por José Enrique Galarreta

Bom fim-de-semana!

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@wpshower

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