Fundamentos

Francisco

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Francisco, como o de Assis, o Xavier (e, já agora, como um avô meu muito querido!). Confiança! Como livreiro, pesquisei os seus livros: aqui fica uma apresentação.

Não conhecia o bispo de Buenos Aires (não se pode conhecer tudo): ouvi falar dele através do testemunho que deixou José Vidal em ReligionDigital.com a 11 de Março, apresentando como um possível novo João XXIII, capaz de iniciar (e permitir!) reformas na Igreja, a partir de uma pobreza evangélica (o texto pode ser lido aqui).

Como livreiro, a minha curiosidade foi pesquisar os livros que poderá ter publicado – embora me pareça que o seu ministério não será, de longe, literário (como foi a preocupação de Bento XVI, na sua pesquisa teológica sobre a pessoa de Jesus), nem talvez magisterial (como João Paulo II, com todas as suas enciclicas e documentos), mas certamente será um ministério de acções simples, gestos concretos.

Como jesuita, publicou sobretudo obras de carácter espiritual, a partir de Exercícios Espirituais que orientou, já como bispo de Buenos Aires (o seu último livro chama-se «Miente abierta, corazón creyente»). São livros que, de momento, se encontram disponíveis (e conhecidos) na Argentina, mas certamente não tardarão a chegar a Espanha e, talvez, a Portugal.

Realço um livrinho, que descobri, e que me pareceu de bastante interesse: chama-se «Sobre el Cielo y la Tierra» (ed. Sudamericana), escrito em 2011 em colaboração com o Rabi de Buenos Aires Abraham Skorka. Trata-se de um conjunto de diálogos breves sobre 29 temas, que vão desde temas de fé (a oração, a morte, as religiões, sobre Deus), até questões mais ligadas à vida da Argentina. Chamou-me a atenção sobretudo pela sua linguagem simples e dialogal. Enquanto o livro não chega a Portugal, aqui fica um breve excerto, da apresentação que o próprio Jorge Bergoglio faz do livro:

«O Rabi Abraham Skorka fez referência, num escrito, ao frontispício da Catedral Metropolitana que representa o encontro de José com os seus irmãos. Décadas de desencontros confluem nesse abraço. Pelo meio encontramos o choro, e também uma pergunta entranhável: «ainda vive o meu Pai?» Não foi sem motivo que, nos tempos da organização nacional, foi colocada ali essa imagem: representava o anelo de reencontro dos argentinos. A imagem aponta para o trabalho de instaurar uma «cultura do encontro». Várias vezes aludi à dificuldade que nós, argentinos, temos para consolidar essa «cultura do encontro», parece que nos seduzem mais a dispersão e os abismos criados pela história. Por vezes, chegamos a identificar-nos mais com os construtores de muralhas que com os de pontes. Falta o abraço, o choro e a pergunta pelo pai, pelo património, pelas raízes da Pátria. Há uma carência de diálogo.

É verdade que os argentinos não querem dialogar? Não o diria assim. Penso antes que sucumbimos vítimas de atitudes que não nos permitem dialogar: a prepotência, o não saber escutar, a crispação da linguagem comunicativa, a desqualificação prévia e tantas outras.

O diálogo nasce de uma atitude de respeita para com a outra pessoa, da convicção de que o outro tem algo de bom para dizer; supõe dar lugar no nosso coração ao seu ponto de vista, à sua opinião e à sua proposta. Dialogar entranha um acolhimento cordial e não uma condenação prévia. Para dialogar há que saber baixar as defesas, abrir as portas de casa e oferecer calor humano.

São muitas as barreiras que no quotidiano impedem o diálogo: a desinformação, a falta de disposição, os preconceitos, a difamação, a calúnia. Todas estas realidades provocam um certo bloqueio cultural que afoga qualquer abertura aos demais. E assim se travam o diálogo e o encontro. Mas o frontispício da Catedral está todavia aí, como que um convite.

Com o Rabi Skorka pudemos dialogar e fez-nos bem. Não sei como começou o nosso diálogo, mas pude recordar que não houve muros nem reticências. A sua simplicidade sem fingimento facilitou as coisas, inclusive de lhe perguntar, depois de uma derrota do River, se nesse dia o seu jantar seria canja de galinha.

Quando me propôs de publicar alguns dos nossos diálogos, o «sim» saiu-me espontaneamente. Reflectindo depois, sozinho, sobre a explicação para uma resposta tão rápida, pensei que se devia à nossa experiência de diálogo durante bastante tempo, uma experiência rica que consolidou uma amizade e que daria uma testemunho de um caminhar juntos a partir das nossas identidades religiosas distintas.

Com Skorka não tive de negociar a minha identidade católica, assim como ele não o fez com a sua identidade judia, e isto não apenas pelo respeito que temos entre nós, mas também porque assim concebemos o diálogo inter-religioso. O desafio consistiu em caminhar com respeito e afecto, caminhar na presença de Deus procurando ser irrepreensíveis.

Este livro testemunho esse caminho… a Skorka o considero um irmão e amigo, e creio que ambos, ao longo destas reflexões, não deixaremos de olhar com os olhos do coração esse frontispício da Catedral, tão significativo e promissor…»

 

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@wpshower

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