«O Espírito Santo é o espaço espiritual, espécie de ‘ambiente vital’, no qual se dá o contacto com Deus e com Cristo». Um excerto, de R. Cantalamessa, sobre o mistério do Espírito Santo. Bom Pentecostes!
«Espírito é um nome traduzido; quando amamos a sério uma pessoa, queremos conhecer tudo sobre ela, designadamente o seu verdadeiro nome ‘de baptismo’. O nome verdadeiro do Espírito, aquele com que os primeiros destinatários da revelação O conheceram, é ruach. Quão suave é, por vezes, invocar o Espírito com esta palavra saída dos lábios dos profetas, dos salmistas, de Maria, de Jesus, de Paulo! A outra fase por que o nome do Espírito Santo passou, antes de chegar até nós, é aquela em que foi designado pneuma. É com este nome que Ele é referido nos escritos do Novo Testamento.
Para os judeus, o nome tinha uma importância tal, que quase se identificava com a própria pessoa. Santificar o nome de Deus é santificar e honrar o próprio Deus. O nome, além disso, nunca é, como para nós hoje, um epíteto puramente convencional; ele comunica sempre algo da própria pessoa, da sua origem ou função. Assim também com o nome ruach, que contém a revelação primeira, e fundamental, sobre a pessoa e sobre a função do Espírito Santo. Daí a importância de começarmos com esse nome o nosso caminho de descoberta da realidade que é o Espírito.
Que significa ruach em hebraico? Na origem, e na sua raiz, significa o espaço atmosférico entre o céu e a terra, o qual pode ser calmo ou agitado; um espaço aberto, como uma pradaria, onde mais facilmente se sente o soprar do vento; por extensão, ruach é o ‘espaço vital’ no qual o homem se move e respira. Este significado primordial do termo deixou algumas marcas na teologia posterior do Espírito Santo. Fala dele amiúde o Novo Testamento, com advérbios de lugar (…) O Espírito Santo é o espaço espiritual, espécie de ‘ambiente vital’, no qual se dá o contacto com Deus e com Cristo.
Ruach significa duas coisas estreitamente interligadas: o vento e a respiração (…) Vento e sopro são mais do que dois meros símbolos do Espírito Santo. Símbolo e realidade estão, aqui, de tal modo ligados entre si, que ficam encobertos pelo próprio nome. É-nos difícil compreender a incidência no processo de revelação do facto que é lermos em toda a Bíblia ‘vento’, onde os Padres da Igreja liam ‘espírito’, ao passo que, onde lemos ‘espírito’, eles liam também ‘vento’. Não foi o Espírito Santo a dar o seu nome ao vento; o vento é que deu o seu nome ao Espírito Santo. Por outras palavras, o sinal precedeu o significado, porquanto, no plano da experiência humana, o que primeiro acontece não é aquilo que é espiritual, seguindo-se aquilo que é material; pelo contrário, vem primeiro o que é material, e o que é espiritual vem depois (cf. 1Cor 15,46).
Começamos assim a nossa escola de pneumatologia, ao ar livre, para depois prosseguir, à medida que formos lendo o Veni Creator, com outros símbolos naturais do Espírito Santo: a água, o fogo, o óleo, a luz. A Bíblia gosta de nos instruir sobre as realidades mais espirituais servindo-se dos símbolos mais materiais e elementares da natureza. Os dois ‘livros’ que Deus escreveu – o das criaturas, composto de coisas e de elementos mudos, e o da Bíblia, feito de letras e palavras – iluminam-se e explicam-se, portanto, um com o outro.»
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