Autoridade e Liberdade na vida do Cristão»
Javier Garrido
ed. Franciscana | Braga 2002 | 213 págs. | PVP: 9,50 euros
«Escolhi sete temas entre muitos outros, todos eles altamente significativos, do meu ponto de vista:
1. A autoridade de Deus: A emancipação do homem moderno de toda e qualquer autoridade (Revelação, Igreja…), o primado da consciência individual, com a re-estruturação radical das funções familiares (especialmente a figura do pai-varão) e o predomínio da experiência religiosa subjectiva, sem norma objectiva, fazem com que o Deus bíblico se torne particularmente conflituoso. Que peso-pesado o de semelhante autoridade! Alguns reivindicam o retorno à autoridade sagrada, garantida pelos dogmas e pela autoridade interpretativa do Magistério eclesiástico. A meu ver, o caminho é bem mais dilatado, apontando para uma nova síntese entre a emancipação, positiva e necessária, e a obediência própria da fé, que nada tem a ver com a submissão e a busca infantil de segurança.
2. A lei de Deus e a autonomia do homem: há séculos que nós, os católicos, mantemos um contencioso com a autonomia do homem, nuclearmente reflectida na fundamentação ética. Teremos porventura de conciliar a lei de Deus, expressão objectiva do bem e do mal, com a dignidade da pessoa e as suas decisões de consciência, que apelam em definitiva para o mistério inobjectivável que só Deus conhece? Teremos de evitar o prometeísmo de nos assumirmos como árbitros do bem e do mal e manter ao mesmo tempo o primado da subjectividade e do discernimento ético?
3. O monoteísmo afectivo: refiro-me ao primeiro mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças” (Dt 6), retomado por Jesus (LC 10) e referencial absoluto da vida cristã. Quem não achar isto escandaloso ou está habitado pelo Amor Absoluto, ou nada sabe de Deus. Será o amor de Deus rival de outros interesses e amores? Não, certamente, mas nada lhe é indiferente. O amor fiel e exclusivo de Deus reformula toda a realidade. Porquê? Com o amor não se discute. Como é que não há-de ser conflituoso um Deus assim?
4. A experiência do pecado: passámos, como diz a gente das nossas comunidades, de um tempo em que “tudo era pecado” para um outro, o actual, em que “nada é pecado”. A formulação é simplista, mas certeira a intuição. Não sabemos como falar do pecado. Recorremos à psicologia, e acabamos sempre mais confusos ou, o que é pior ainda, reduzimos o conflito com Deus a uma questão de auto-estima. Estas páginas, porém, reivindicam a necessidade duma reflexão inter-disciplinar que integre, diferenciando-os, os níveis da experiência do pecado. O amadurecimento na fé tem que se libertar da culpabilidade malsã, neurotizante. A própria maturidade encontra no pecado a plataforma privilegiada para a experiência fundante da Salvação, ou seja, para a paz própria do Espírito Santo.
5. Mundo secular e omnipotência de Deus: A causalidade estudada pela ciência deixou Deus sem acção no mundo, literalmente impotente. Alguns teólogos, dando voltas ao caso, consideram que essa debilidade, voluntariamente assumida por Deus ao criar o mundo com os seus respectivos dinamismos, evidencia esplendorosamente o amor de Deus. A consequência é dissociar Deus e o mundo, sendo a acção de Deus mais simbólica do que real. O problema afigura-se especulativo, mas é nele que se joga o sentido da Providência e a certeza primordial da fé: a de que Deus é absolutamente real em tudo. O conflito exige uma nova compreensão da presença criadora e salvífica de Deus. A síntese começa por distinguir entre fé e a sua representação cultural.
6. O problema do mal: A conflitualidade deste sistema atravessa todas as épocas e culturas. Porquê tanto sofrimento? Poder-se-á falar de um Deus bom diante das lágrimas de um inocente? Mais inquietante é que a chegada do Reino, a suposta era de felicidade definitiva prometida por Deus, haja de se realizar através das torturas e da morte do seu filho único, Jesus de Nazaré. Desde Job até ao brado de Jesus Cristo no alto da cruz, quando o escândalo do mal exige de Deus as provas da sua credibilidade, a resposta do seu Amor obriga-nos a confessar o nosso pecado e a nossa falta de fé: “Quem nos separará do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus?” (Rom 8).
7. O Homem e o Divino: Vivemos numa época em que o antropocentrismo se tornou tão radical que Deus está a ser substituído pelo homem. São múltiplas as suas formulações. Algumas, humanistas: o sentido último da vida não está mais-além, mas mais-aquém. A pessoa é o critério do sagrado… Outras são inclusivamente religiosas: a busca duma espiritualidade imanente, sem Deus; o budismo e a sua releitura ocidental, enquanto sabedoria de vida… E do mesmo modo que recrudesceram certos fundamentalismos religiosos, de igual modo se generalizou a suspeita sobre as religiões da Revelação, em que a autoridade do Deus pessoal é determinante. O desinteresse por Deus está a tornar-se consciente, lúcido, raciocinado.» (da Introdução, pelo autor).
Encomende-nos com portes gratuitos: veja como aqui
Susbscribe to our awesome Blog Feed or Comments Feed