Fundamentos

Assustaram-se…

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No seu livro Hora Prima, publicado pela primeira vez em 1997, o escritor italiano Erri de Luca faz a seguinte leitura da rejeição por parte dos nazarenos da pregação de Jesus, em Lucas 4, 11-30, na qual refere uma profecia de Isaías. Escreve de Luca: «Assustava-os que aquilo que Isaías anunciava se pudesse realizar naquela altura». E continua:

«Ainda que uma pessoa de fé possa pedir a Deus que venha o seu Reino e que se faça a sua Vontade, no fundo nunca estará disposta a acolher nem o Reino nem a Vontade. A sua chegada será sempre desconcertante. Vede o Messias a consolar os humildes e aflitos, a libertar os prisioneiros e os escravos das suas cadeias. Não será apenas um dia de festa, mas também de castigo, como afirma o versículo seguinte (da profecia de Isaías): ‘Um dia da vingança para o nosso Deus (Elohím)’.

Os habitantes de Nazaré reagiram contra Jesus, que se apresentava como a realização daquelas profecias. Mas reagiram também contra as próprias profecias, harmoniosas para serem escutadas, mas duras de suportar pelo que tinham de subversão da ordem instituída.

Estes versículos de Isaías, como muitos outros, põem à prova os crentes: Estão dispostos a aceitar a chegada, a realização dos tempos anunciados? Muito poucos se mostram inclinados a aceitar a actualidade das palavras de Isaías. Poucos aceitariam uma atitude distinta da dos nazarenos. E, no entanto, em cada geração o Messias passa e são os crentes aqueles que devem facilitar a sua chegada.

Diz o Talmud: ‘Conhece aquele que está sob ti’ (Abot 2,1), exortação que o rabino Haim de Voloshine (Lituânia, séculos XVIII-XIX), atendendo mais ao seu sentido literal, interpreta assim: ‘Conhece o que depende de ti’. De ti, de cada um de nós, depende inclusive o Messias.»

Erri de Luca, «Hora Prima», Salamanca 2011, pág. 92

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