Nicholas Lash é teólogo católico inglês, professor de teologia em Cambridge entre 1978 e 1999, e colaborador regular do jornal The Tablet. No livro ‘A Noite do Confessor’, Tomás Halík refere-o como «uma das pessoas mais eruditas, sensatas e perspicazes que eu conheço». O excerto que se segue pertence ao primeiro capítulo do livro «Holiness, Speech and Silence: Reflections on the Question of God», chegado recentemente à Fundamentos.
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«Nas nossas circunstâncias, viver a verdade do Evangelho contém exigências bem mais sérias e perigosas do que simplesmente receber indiscriminadamente uma informação avulsa. A menos que consigamos tornar nossa essa verdade, através do pensamento, do esforço e da argumentação – num caminho de oração, estudo e de uma procura firme de compreensão -, essa verdade escapar-se-á, desgastada e substituida, pelo poder da imaginação alimentada por outras passagens, sintonizada por outras histórias. E esta constante, persistente e vulnerável tentativa de encontrar um sentido cristão das coisas, não apenas no que nós dizemos mas também nos modos como vemos o mundo, é o que consiste a teologia.
E no entanto, na minha experiência, a maioria dos cristãos no Reino Unido têm uma visão diferente. Nunca deixo de ficar espantado pelo número tão elevado de cristãos devotos e de formação superior, especialistas nos seus domínios como professores, doutores, engenheiros, contabilistas, etc, leitores regulares da imprensa generalista e pesquisadores ocasionais no Economist ou no New Statesman, no New Scientist ou no Times Literary Supplement; visitantes regulares no cinema, e leitores regulares dos últimos romances recomendados pelo The Booker; e, não obstante, de um ano para o outro, nunca mergulham de modo sério na teologia cristã e provavelmente supõem que o The Tablet (órgão semanal de informação católica) é algo que se compra na farmácia.
É claro que é verdade que a erudição, ou pelo menos a literacia, não são condições necessárias para aquela dimensão de santidade que é a sabedoria cristã. No entanto, a ignorância nunca é uma virtude, nem a recusa em dirigir os recursos da mente e do coração no sentido de procurar a compreensão da fé. Será difícil evitar concluir que os cristãos devotos e com formação superior, que recusam adquirir um mínimo de competências teológicas no âmbito geral dos seus conhecimentos, simplesmente não se interessam pela descoberta da verdade do Cristianismo ou, pelo menos, não se preocupam em conhecer um pouco mais sobre aquela Palavra pela qual todas as coisas são feitas, a cuja luz fomos chamados, e na qual seremos verdadeiramente livres.
Espero que estes pensamentos provocadores não seja interpretados como meras observações ressentidas de um académico jubilado que gostaria que mais pessoas comprassem os seus livros! Tenho pensado bastante sobre os motivos pelos quais o estudo da teologia é constantemente marginalizada do âmbito do discurso público cultural no mundo ocidental e, enquanto não deixo de pensar que muita da responsabilidade estará do lado dos teólogos, acredito sobretudo que as razões mais profundas encontram-se numa falha sistemática das Igrejas Cristãs de se entenderem a si próprias como escolas de sabedoria cristã: como projectos sustentados de educação de um estilo de vida.»
Nicholas Lash, ‘Holiness, Speech and Silence: Reflections on the Question of God», Ashgate 2004
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