Cristina Campo, Os Imperdoáveis

Os Imperdoáveis

Cristina Campo. Assírio&Alvim 2005, 276 págs. PVP: 18,00 euros

“Já se disse que nunca aflorou um sorriso à boca imperiosa do Redentor, mas com qual outra cambiante aos cantos dos lábios e por entre as sobrancelhas se poderia ter pronunciado certas palavras? Certas apóstrofes, certas interrogações aos inimigos e aos amigos?

“Também vós quereis retirar-vos?” (Jo 6,68); “Isto escandaliza-vos?” (Jo 6,62); “Por qual das minhas (boas) obras me apedrejais?” (Jo 10,32); e o terrível “Amigo, a que vieste?” (Mt 26,50). Ou então: “Não foram dez os que ficaram limpos? Onde estão os outros nove?” (Lc 17,10). E aquele remoto e astral escrever no chão, aquele erguer repentino de um olhar todo clemente ironia: “Mulher, onde estão eles (os teus acusadores)? Ninguém te condenou?” (Jo 8,11). E mais subtil e mais intimamente: “Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas…” (Lc 10,41), ou “E se alguém quiser pleitear contigo para te tirar a túnica dá-lhe também a capa; e se alguém te contratar para uma milha, vai com ele duas…” (Mt 5,41). A palavra de ordem espiritual mais típica (que nada transpareça…) está numa advertência estética: “Os hipócritas desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam (…) Tu, porém, quando jejurares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas de teu pai que está ao corrente do segrego…” (Mt 6,16-17).

Não estará talvez aqui o imenso e incessante convite à íntima libertação que é o esquecimento total de si, de um ego magnetizado pelos espelhos invertidos da psicologia e do social, despojamento do que engana e faz tropeçar o espírito para adquirir o pé ligeiro, o ritmo feliz, o dispensador da felicidade dos santos?”

Encomende-nos com portes gratuitos