E amanhã tem início o Outono… um breve poema de Rainer M. Rilke, um excerto de José Augusto Mourão e um poema de Romano Melódio, poeta cristão do séc. VI; bom fim-de-semana!
Senhor: é tempo. O Verão foi muito longo.
Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
e solta os ventos sobre os campos.
Ordena aos últimos frutos que amadureçam;
dá-lhes ainda dois dias meridionais,
apressa-os para a plenitude e verte
a última doçura do vinho pesado.
Quem agora não tem casa, já não vai construí-la.
Quem agora está só, assim ficará por muito tempo,
velará, lerá, escreverá longas cartas
e vagueará inquieto pelas alamedas acima e abaixo,
quando caírem as folhas.
in Rainer M. Rilke, «O Livro das Imagens»
…
«Dê-nos o seu Anjo a paciência de deixar crescer, de confiar no coração do homem sem ceder ao pânico e ao terror diante daquilo que nos pode parecer a erva má. Ensine-nos o jardineiro a indulgência e a solicitude. Cure-nos o Espírito da impaciência do coração. E que o jardineiro visite o jardim da nossa alma de filhos e nos ensine a rezar, a confiar, a deixar crescer, a reconhecer o outro, a confirmá-lo no seu esforço, a ajudá-lo a crescer em tudo o que é vivo e belo. O poder de julgar, o veredicto não pertencem ao homem mas a Deus. Intervir, operar, eliminar, extirpar são verbos que convêm ao demónio, não a Deus. Porque até Deus se arrependeu do dilúvio e se alegrou com Noé, a origem de um novo começo.» (José A. Mourão, «Quem Vigia o Vento não Semeia»).
…
«Vós que tendes sede vinde a mim e bebei.
Orvalhe este coração humilhado
que o caminho errante dividiu
e consumiu de fome e sede
fome não de alimento, e sede
não de bebida,
mas de escutar a Palavra do Espírito
assim ele geme baixindo esperando
que o julgues
tu que apareceste e tudo iluminaste.»
Romano Melódio, séc. VI
(um parêntesis: de facto é necessária uma pedagogia que nos introduza no conhecimento dos livros, autores, etc: eu, há 2 anos, não sabia quem era José Augusto Mourão; e neste momento, não há dia em que não leia um poema ou homilia deste dominicano e ex-professor da Nova de Lisboa. Talvez seja essa, quem sabe, a missão da Fundamentos. E quanto a Romano Melódio… bem, fica para outro dia).
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