O ministério de Francisco como bispo de Buenos Aires caracterizou-se também pela orientação de retiros e exercícios espirituais: a obra agora publicada em Portugal, original de 2012, reúne algumas das reflexões de Bergoglio nesse contexto.
Jorge Bergoglio |
Ed. Nascente | Lisboa 2013 (orig. 2012) | 256 págs | PVP: 16,00 euros |
O ministério de Francisco como bispo de Buenos Aires caracterizou-se também pela orientação de retiros e exercícios espirituais, cujas reflexões foram sendo compiladas e publicadas em livro na Argentina (um pouco como, entre nós, foi acontecendo com o cardeal Carlo Martini). A obra publicada pela Nascente Editora (e que acaba de chegar à Fundamentos), ‘Mente Aberta, Coração Crente’, foi originalmente publicada em 2012 e reúne algumas dessas reflexões orientadas por Bergoglio. Aqui fica um breve excerto e índice.
«Creio que a obra que tem nas suas mãos, e para a qual tive o prazer de escrever este prólogo, é fruto de um longo caminho de reflexão e oração que necessita, por isso, de uma leitura pausada; darmo-nos tempo é o primeiro requisito para avançarmos em algo importante. Estamos habituados a ler rapidamente para nos informarmos, mas este livro tem outra pretensão. Agradeço ao cardeal Bergoglio por ter decidido reunir diversos textos para os apresentar, na unidade de uma obra, como um caminho sempre atual que nos ajuda e enriquece.» (do prefácio por José M. Arancedo, arcebispo de Vera Cruz).
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«1. A alegria apostólica alimenta-se na contemplação de Jesus Cristo: como andava, como pregava, como curava, como olhava… O coração do sacerdote deve beber nesta contemplação e nela resolver o principal problema da sua vida: o da sua amizade com Jesus Cristo. Proponho agora a contemplação dos diálogos de Jesus, alguns deles. Como fala Jesus com aqueles que Lhe querem impor condições, com aqueles que o querem enganar, com aqueles que têm o coração aberto à esperança da salvação.
2. Os diálogos condicionados. Tanto os três casos de Lc 9,57-62, como o de Nicodemos (Jo 3,1-21) e da Samaritana (Jo 4,1-41) condicionam a sua aproximação a Jesus. Os três primeiros procuram pôr um limite à sua entrega: a riqueza, os amigos, o pai. A Samaritana procura desviar a conversa porque não quer tocar no essencial: prefere falar de teologia em vez de tratar dos seus maridos. Nicodemos condiciona a sua aproximação a Jesus à segurança: vai de noite. E Jesus, como não o vê disposto, deixa-o enredado nos seus próprios ardis, porque para Ele o ardil era o refúgio egoísta para não ser leal.
3. Os diálogos enganadores. Procura-se «tentar» o Senhor para encontrar uma fi ssura na sua coerência, que permita conceber a piedade como uma troca; e, então, trapaceia-se a fé pela segurança, a esperança pela possessão, o amor pelo egoísmo.
4. Na cena da mulher adúltera ( Jo 8,1-11), se Jesus diz que sim, oblitera a sua misericórdia, se diz que não, vai contra a lei. Nestes diálogos enganadores Jesus costuma fazer duas coisas: dizer uma palavra, que é doutrina, a quem o quer enganar, e outra à vítima (neste caso a adúltera) ou à situação usada para enganar. Aqui, aos enganosos devolve-lhes a condenação dizendo-lhes que a apliquem a si próprios; e à mulher, devolve-lhe a sua vida mandando-lhe que tome conta de si própria.
5. Neste mesmo sentido se pode meditar a armadilha do tributo a César, que representa a tentação saduceia de colaboracionismo (Mt 22,15-22), e a da declaração acerca da própria autoridade (Lc 20,1-8), a que Jesus responde exortando-os a que assumam as «autoridades» que Deus lhes mandou e que eles não aceitaram.
6. Há uma armadilha, também saduceia, em cuja resposta o Senhor levanta o olhar para horizontes escatológicos. Quando a dureza do coração enganoso é irreversível, então, peca-se mortalmente (1 Jo 5,16), peca-se contra o Espírito Santo (Mt 12,32), confundem-se os espíritos. A armadilha é tão sórdida que o Senhor não entra na dialética de uma resposta: simplesmente, volta à pureza da sua glória, e daí lhes responde: Lc 20,27-40.
7. A raiz de todas as armadilhas envolve sempre vanglória, possessão, sensualidade, orgulho. E o próprio Senhor nos ensinou a responder a estas intimações enganosas com a história feliz do nosso povo fiel: Mt 4,1-11.
8. Finalmente, há um terceiro grupo de diálogos de Jesus, a que poderíamos chamar diálogos leais. Acontecem com os que se aproximam sem subterfúgios, inteiros, com o coração aberto à manifestação de Deus. Tudo é posto em cima da mesa. Quando alguém se aproxima assim, o coração de Cristo enche-se de alegria (Lc 10,21).»
1. Os Diálogos de Jesus | 2. Epifania – Manifestação | 3. As Cartas às Sete Igrejas | 4. A nossa carne em oração.
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