Há livros que nos tomam completamente de surpresa… Chegou à Fundamentos, directamente de Barcelona, um livro com o título de «Monjas»: vinte entrevistas a religiosas catalãs, de um modo absolutamente original. Uma apresentação e excertos:

Laia de Ahumada é uma escritora e filóloga catalã, com um trabalho desenvolvido no estudo da área epistolar e de teor espiritual (os escritos de Teresa de Ávila, por exemplo). Neste livro, Ahumada realiza um conjunto de entrevistas a 20 religiosas catalãs (as religiosas, em Espanha, são geralmente conhecidas por «monjas», independentemente do Instituto a que pertençam ser de carisma contemplativo ou activo). Desde logo são as perguntas que chamam a atenção: breves, de uma ou duas linhas, sem aqueles textos longos de introdução que por vezes encontramos neste tipo de entrevistas; por exemplo, a primeira pergunta à médica e teóloga beneditina Teresa Forcades é «Qué estás viviendo ahora?».
Impressionou-me sobretudo a riqueza dos testemunhos que encontrei: neles encontramos a religiosas geralmente com uma formação de nível universitário, seja em teologia ou em áreas de ciência humanas, de diversos institutos e carismas, muitas já na faixa etária dos sessenta e setenta anos, muitas em comunidades de vida contemplativa, mas em comum com um trabalho desenvolvido quer em termos de evangelização e criação de contextos de oração e evangelização, quer em contextos de marginalização social, seja em zonas urbanas de Barcelona, seja em África e na América Latina. E no final uma linguagem “arejada”, simples e pessoal. Deixo a breve apresentação de cada uma das religiosas que se encontra no início das entrevistas (com uma frase escolhida pela organizadora do livro), assim como dois excertos (muitos outros teriam aqui lugar) o primeiro da entrevista a Teresa Losada sobre o diálogo inter-religioso a partir da experiência do trabalho com emigrantes africanos em Barcelona, e o segundo da dominicana Lucía Caram:
«Um deles dizia-me: ‘se tenho cinco dedos na mão e aquele que manda em mim também tem, porque é que ele pode explorar-me?’ Falava-me do coração negro dos ricos e do coração recto de Deus, e dizia que, desta vida, apenas levamos o bem que tenhamos feito. Quando algum deles morre, a fórmula de pêsames é: ‘De Dios vimos e para Deus vamos’. É muito diferente das nossas fórmulas lúgubres. Quando estudas o Islão, dás-te conta de que têm formalismos como nós, mas a experiência e a fé vão por outros caminhos. Que revelações de Deus tive com estas pessoas! Deus conduz a história. A vida é muito curta e temos de a viver ao máximo, temos de estar despertos. A chamada que agora sinto é a de estar ao lado desta imigração muitas vezes tão desesperada, escutar os gritos de raiva, de exploração, e ver como podemos ajudá-los a descobrir novos caminhos.»
«À noite, na oração de completas, enquanto faziamos o exame de consciência, todas esperavam que eu fizesse a profissão do credo. Pus-me de pé e comecei a rezar o credo: «Creio em Deus-Pai todo-poderoso… e desceu aos infernos… Sim irmãs, desceu aos infernos, mas quando saiu pôs um cartaz a dizer: ‘Encerrado pela Ressurreição’. Boas noites!» E fui-me embora. Com isto expressei a convicção de que eu acredito na misericordia.»
1. Berta Meneses: Congregação Filipense, professora e mestre Zen. «Quien ha hecho el esfuerzo de ir hasta el fondo de la propria tradición religiosa, no tiene miedo de entrar en otra».
2. Carme Sardà i Tort: Comunidade Sant Pere de Reixac (vida contemplativa). «La plenitud es igual a nada, es una ausencia».
3. Catalina Terrats: Beneditina, música. «Estar siempre dispuesta a acoger a los demás te exige mucho, es negarte».
4. Eulàlia Bofill: Carmelita descalça. «Me interesa un Dios que siempre encienda más deseo».
5. Griselda Cos: Beneditina, música. «La Música tiene mucha fuerza para crear unión y comunión».
6. Lucía Caram: Dominicana, teóloga. «Lo que me seduce es la búsqueda de Dios que existe también en la gente de otras religiones».
7. Mariàngels Segalés: Congregação das Irmãs da Caridade Vedruna, enfermeira, sem-tecto em Barcelona: «Yo he optado por bajar del tren y quedarme».
8. Maria Lluïsa Cortès: Congregação do Sagrado Coração de Jesus, eremita e música. «No quiero nada, mi camino es el abandono».
9. Mireia Galobart: Congregação das Irmãs do Menino Jesus, quimica. «Creo en esto de la educación».
10. Montserrat Domingo: eremita em Tarragona. «Soy yo quien ha optado, pero me doy cuenta de que es El quien me mantiene aquí».
11. Montserrat Viñas: beneditina. «A cada una hay que darle lo que realmente necesita para su crecimiento personal».
12. Pepa Vignau: Congregação Sagrado Coração de Jesus, filóloga e socióloga. «Siempre he sentido muy cercana la inserción de las personas marginadas».
13. Pilar Sauquet i Muntal: Irmazinhas de Jesus (Carlos Foucauld), trabalhadora sazonal (agricultura). «Vamos a lugares considerados extremos, en actitud desarmada, sin pretender nada, acogiendo al otro tal como es».
14. Rosa Maria Barber: Irmazinhas da Assunção, assistente social. «Me gusta mirar antes de empezar algún compromiso, conocer el barrio, sentarme en los bancos y rezar».
15. Rosa Maria Piquer: Comunidade de Santa Maria de Mas Blanc, psicóloga e musicoterapeuta. «En el hospital, me he encontrado acompañando a personas con quienes he seguido un proceso precioso hasta morir».
16. Rosa Prat: Religiosas de Maria Reparadora. «Me encanta que me envíen a las casas de ejercicios, porque la gente que acude allí quiere encontrar a Dios.»
17. Roser Garriga: Congregação das Missionárias do Coração de Maria, pertence ao Colectivo de Mujeres en la Iglesia. «Dicen que tenemos que hacer avanzar a la Iglesia; yo digo que no: tenemos que hacerla retroceder hasta los inicios».
18. Teresa Forcades i Vila: beneditina, doutora em medicina e teologia. «La calidad del amor de Dios es esta: quiere interlocutores válidos, no quiere esclavos ni gente sometida».
19. Teresa Losada: Franciscanas Missionárias de Maria, doutora em filologia semítica. «La llamada que siento ahora es estar al lado de esta inmigración a menudo tan desesperada».
20. Victòria Molins: teresiana, filóloga e escritora. «Mi vocación está en los que ahora son los más perdidos, los ‘malos ladrones’, que son los drogadictos, los de las cárceles».
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