É de Praga, República Checa, que nos chega mais um recente lançamento das Paulinas Editora. Uma breve apresentação, com um excerto e índice da obra.
É de Praga, República Checa, que nos chega mais um recente lançamento das Paulinas Editora. Presbítero e professor universitário, Tomás Halík pertenceu desde a década de 1970 à chamada “Igreja subterrânea”, exercendo o seu ministério sem a autorização oficial do regime comunista de então. Com a democratização do país, Halík iniciou uma actividade cívica interessante, ao nível de publicações, conferências e debates, inclusive com os representantes políticos, testemunhando-o ao longo do livro.
Certamente por isso, Halík apresenta-nos uma obra desenvolvida em torno ao diálogo e encontro com os que se encontram “nas franjas”, quer da Igreja, quer da própria vida social e política. A experiência de crescer e viver, primeiro sob um regime oficialmente ateu, e depois numa sociedade em que a presença cristã não adquire uma dimensão tão significativa como, por exemplo, nos países mediterrânicos, terá conduzido o autor a desenvolver um pensamento original no que toca a este encontro e diálogo.
Todo o livro se constrói à volta da narrativa de Zaqueu, apresentado como imagem de todos os que vivem(os) à margem, e apresentado como modelo também para os crentes: não apenas o modelo tradicional de “conversão” (que é sempre consequência, e não condição, do encontro com o Senhor), mas modelo de procura e de desejo. E a procura, o desejo, a interrogação, a expectativa são dimensões, não prévias à fé ou confiança, mas pertencem à fé, e a partir do momento em que desaparecem, a própria fé morre.
Deste modo, aqui fica uma boa proposta para, parece-me, “nós” que não estamos nas “franjas”: para também nos colocarmos nas “franjas” da fé, da interrogação, da procura, do desejo, e para nos encontrarmos – sem qualquer tentativa de “converter” – com os que nos observam, das “franjas”. Um excerto do livro, seguido do seu índice. Boa leitura!
«No crescendo final do seu hino ao amor, São Paulo escreve que o amor é paciente (1Cor 13,4). Sim, e a fé também é paciente, se for realmente fé. Com efeito, a fé é paciência. Assim como o amor por outra pessoa – a sua força e autenticidade – se manifesta e revela na paciência para com o outro, a fé também está presente (embora oculta, implícita e anónima) numa certa forma de paciência frente a todas as dificuldades, agruras e ambiguidades. E é nessa paciência – e talvez acima de tudo no que ela encerra – que a sua força e autenticidade se manifestam.
Sim, talvez a autenticidade da fé se revele mais através da sua paciência do que através do seu “conteúdo” consciente – ou seja, como e o que ela é capaz de dizer precisamente sobre o seu “objecto”. “A paciência tudo alcança”, nisso acreditava e isso ensinava Santa Teresa de Ávila, outra grande e sábia doutora da Igreja. “Pela vossa perseverança salvareis a vossa vida”, diz a Escritura. Hoje em dia, a fé é muito mais apresentada como uma decisão, uma decisão consciente de seguir Cristo – tomada por vezes no ambiente emotivo de manifestações “carismáticas”. Contudo, não requer apenas uma decisão, mas também perseverança e paciência frente àquele que virá mais tarde.
Se a paciência é aquilo que confere a sua força à fé, poderá constituir apenas um aspecto marginal da mesma? Não será a paciência precisamente aquela abertura através da qual a graça de Deus é derramada na nossa fé, como causa primeira da nossa salvação – e não será essa graça, de facto, a paciência do seu amor por nós, a paciência da sua confiança em nós? Não será a paciência da fé humana a lareira em que Deus pode atear o fogo do seu Espírito e forjar de novo a “fé humana” como a fé de Deus… embora muito pequena e quase invisível aos olhos do mundo, mas capaz de fazer milagres?
Ou será mais correto dizer que Ele sempre esteve escondido, até mesmo nas formas mais humanas da nossa busca, interrogação e observação – desde que estas fossem feitas com paciência – e que, de facto, Ele nos ofereceu sub-repticiamente essa graça da paciência, que eventualmente nos permitirá descobrir e reconhecer o [Deus] Oculto e ouvi-lo quando Ele nos chama pelo nome? Em última análise, a paciência que praticamos frente aos enigmas constantes da vida, resistindo à tentação de desertar e de recorrer a respostas simplistas, é sempre a nossa paciência com Deus, que não se mostra “acessível”.» (pág. 273)
1. Interpelando Zaqueu | 2. Bem-aventurados os distantes | 3. Longe de todos os sóis | 4. Os pés descalços | 5. A disputa acerca da beleza de Dulcineia de Toboso | 6. Uma carta | 7. Um Deus desconhecido, mas demasiado próximo | 8. O espelho da Páscoa | 9. Tempo para juntar pedras | 10. Tempo para curar | 11. São Zaqueu | 12. O eterno Zaqueu
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«Paciência com Deus», por Frei Bento Domingues:
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