Para esta Quarta-Feira de Cinzas, um poema de José Augusto Mourão: e votos de uma boa Quaresma, boa preparação Pascal!
«Deus, nós devoramos o tempo, | o espaço e o conhecimento | quais vampiros
em nenhum lugar da cidade te encontramos | e rezar-te é ainda reduzir-te | ao pão da nossa saciedade | e à nossa fome
Deus, nós procuramos-te | como se procura a água e o pão: | cultiva os nossos desertos, | a nossa procura e a nossa perda, | as nossas malhas de ilusão
eis-nos diante de ti | e em face uns dos outros: | ficou-nos o resto da partilha, | os caminhos da errância e da solidão
Deus da Palavra e da Promessa, | dá ao nosso desejo a graça | de se querer para além da sua imagem | e da clausura que o arme em circo
dá ao nosso desejo a graça de se tornar fluxo, rio, exílio | ou vaga de palavras | que nenhum lugar o codifique | ou territorialize
Deus, como nós nómada, | que a tua presença se realize de lugar em lugar, | de estação em estação | e que a tua palavra se enraíze
tu que és a Palavra e a Promessa | realizadas em Jesus e no Espírito | e nos fazes cantar»
José Augusto Mourão, «O Nome e a Forma: Poesia Reunida», Lisboa 2009
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