«É um erro, ou por melhor dizer, heresia, querer banir a vida devota dos quartéis dos soldados, das oficinas dos artistas, da corte dos príncipes, do lar dos casados». Acaba de chegar à Fundamentos:
Introdução à Vida Devota
S. Francisco de Sales, ed. Voz Portucalense, Porto 2010, 212 págs.
«É um erro, ou por melhor dizer, heresia, querer banir a vida devota dos quartéis dos soldados, das oficinas dos artistas, da corte dos príncipes, do lar dos casados. É certo, Filotea, que a devoção meramente contemplativa, monástica e religiosa, não pode ser cumprida à risca nestes estados; mas também é sabido que, além destas três espécies de devoção, há muitas outras próprias para aperfeiçoar os que vivem nos estados e profissões seculares.» (do Capítulo III, «A devoção é necessária em toda a espécie de estados e confissões»)
«Em boa hora se reedita a Introdução à vida devota, obra maior de S. Francisco de Sales (1567-1622). Em boa hora, porque a oportunidade é grande e urgente. Como o próprio autor reconheceu e disse, os que até então tinham escrito sobre a devoção – o verdadeiro amor e entrega a Deus – dirigiam-se sobretudo a “religiosos” presentes ou futuros e apartados do mundo. Não é esse o seu intento, nem do livro, que nascera das orientações espirituais que dera a uma cristã comum, espiritualmente exigente.
E é por isso que a “vida devota” de Francisco de Sales é verdadeiramente inaugural do catolicismo moderno. Na Idade Média, de que ainda lhe chegara tanta coisa, “converter-se” quase significava entrar nos claustros ou em ambientes próximos deles. Mas para o bispo de Genebra, constante caminheiro de terras dissidentes, entre católicos e protestantes, e contínuo correspondente de tantos que lhe escreviam, já não bastava ser assim. Mais do que apartar-se do mundo, era no mundo que importava estar e exercitar-se, na união a Deus e no testemunho cristão.
Para isso escreveu esta obra em 1608 e a reviu depois. Como ele próprio esclarece no prefácio: “Os que até hoje trataram da devoção, quase todos tiveram em vista instruir as pessoas que vivem muito arredias e avessas ao trato e comércio do mundo, ou pelo menos ensinavam uma espécie de devoção que leva a esse total retiro. Pelo contrário, eu quero instruir e guiar os que vivem nas cidades, no seio da família, na Corte e palácios dos grandes…”. Aí mesmo, onde a vida ganhara mais dispersão e contraste no respeitante a convicções e costumes, aí mesmo se devia revigorar o amor a Deus e ao próximo, na densidade espiritual de cada um: “Dirijo as minhas palavras a Filotea, […] porque Filotea quer dizer amante ou enamorada de Deus.» (do Prefácio, por Manuel Clemente).
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