Seta de Fogo

E porque hoje celebramos a memória de Teresa, a de Ávila, reformadora, poeta, mulher… um breve poema:

«Seta de Fogo»

22 Poemas (edição bilingue) |

Teresa de Ávila |

tradução, prólogo e notas de José Bento |

«A personalidade de Santa Teresa de Jesus tinha duas faces, que se uniam para formar o seu rosto único: uma nascida da oração e da contemplação (a que correspondem os poemas de arrebatado misticismo), e a que se foi moldando nos tormentosos caminhos dos homens, onde se lançou por amor dos outros, sem o qual aquela oração e aquela contemplaçãonada seriam (que deu os poemas humildes escritos para servir os seus conventos). Se lembrarmos isto, ficaremos certos que ler os seus poemas não é vão, pois tudo o que é obra de um espírito como o da extraordinária carmelita participa da sua grandeza.» (do prólogo, por José Bento).

Pastores que velais

Ah, pastores que velais
pra guardar vosso rebanho!
Nasceu-vos hoje um Cordeiro.
Filho de Deus Soberano.

Chega pobre e desprezado,
começai já a guardá-lo,
pois o lobo irá levá-lo
sem que o tenhamos gozado.
Gil, dá cá esse cajado,
não o largarei, insano,
não nos levem o Cordeiro:
Não vês que é Deus soberano?

– Caramba!, estou aturdido,
alegria e penas junto.
Se é Deus o que hoje há nascido,
como ficará defunto?
– Oh, que é homem também junto,
vida terá, bem humano!
Olhai que é este Cordeiro
Filho de Deus Soberano.

Não sei para que o pediram,
se depois lhe fazem guerra.
– Por minha fé, é bom, Gil,
que regresse à sua terra.
– Se o pecado nos desterra
e o bem detém, sem engano,
já que veio cá, padeça
este Deus tão soberano.

Pouco te dói sua pena:
oh como é certo que ao homem,
quando isso nos dá proveito,
o mal alheio se esconde!
– Não vês que ganha renome
de Pastor deste rebanho?
– Contudo, é coisa mui forte
que morra Deus soberano.

Índice de Poemas

Vivo sem viver em mim | Sobre aquelas palavras «dilectus meus mihi» | Formosura que excedéis | Busca-te em mim | Sou vossa, para vós nasci | Para pedir paciência nas adversidades | Loa à cruz redentora | Colóquio de amor | Ais do deserto | Pastores que velais | Ao nascimento do Redentor | Já vem a alva | Está a verter sangue | Na festa dos Reis | A Santo André, apóstolo | A Santo Hilário, anacoreta | A Santa Catarina, mártir | À tomada de hábito da irmã Isabel de los Ángeles | Numa Profissão Religiosa | Não durmais já, não durmais | Na profissão de Isabel de los Ángeles | Já que nos dais veste nova

ed. Assírio&Alvim | Lisboa 2011 | 2ª edição | 135 págs. | PVP: 7,00 euros

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