Fundamentos

um hoje da amizade

«Não é por acaso que Jesus sublinha o advérbio hoje»: uma curiosa leitura do relato de Zaqueu por Tolentino Mendonça (amanhã, sábado, a Fundamentos estará excepcionalmente encerrada: um pedido de desculpas do livreiro)

«É um encontro improvável, mas que resume a sua missão, este em que Jesus se dirige a um inconveniente espectador da pequena cidade de Jericó, como se falasse a um velho amigo: «Zaqueu, desce depressa: preciso “hoje” de ficar em tua casa» (Lc 19,5). E no remate da memorável jornada, Jesus atesta ainda, para desconcerto de muitos: «”Hoje” a salvação entrou nesta casa» (Lc 19,9).

Para as gentes de Jericó, Jesus era um galileu com fama de profeta, facto suficiente para juntar uma chusma de curiosos em alvoroço. Provavelmente desconheciam as vozes que, para diminuí-lo, o acusavam de ser «amigo de publicanos e pecadores» (Lc 7,34), pois também eles se incomodarão com isso (cf. Lc 19,7) quando, aos olhos de todos, Ele vier a escolher a casa de um pecador para hospedar-se!

Mas se atendermos ao diálogo, entre Jesus e aquele líder dos mal-afamados publicanos que se torna seu amigo, há um elemento essencial que salta: é-nos mostrado que o acontecer da salvação liga-se fortemente à experiência de uma amizade que revira as magras expectativas que pareciam conter todo o presente. Não é certamente por acaso que Jesus sublinha o advérbio “hoje”. A amizade dá um outro valor ao tempo. Por mais modestos que sejam os meios da sua expressão, a amizade com Jesus torna o tempo uma epifania, um lugar de vida ganha, de vida salva.»

in José T. Mendonça, «Nenhum Caminho será Longo», pág. 72

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@wpshower

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