A debilidade como força. Tal ser humano vive a contemporaneidade do “podes, é-te permitido, deves” de graça, mandamento e actuação. Está só e viver consigo mesmo sem ser vaidoso, será atento e responsável pelo outro sem se perder; dedica-se à beleza sem ser um esteta, à verdade sem ser fanático, ao bem sem ser moralista, ao mundo da fé sem ser beato ou iniciado, porque sabe que quanto é de maior, aquilo a que os homens chamam de Deus, é precisamente o ponto débil de qualquer religião, de qualquer sistema, de qualquer lógica, é aquilo no qual estas coisas se perdem e se tornam culpáveis, para depois quiçá poderem ser re-encontradas.
Tal Deus não é um ídolo, uma super-estrutura, uma conclusão, não é a solução de todas as questões, nem o sentido de tudo, nem sequer um poder que tudo sustém. Dele não se pode abusar para legitimar condições da vida humana; pelo contrário, revela-se aos seres humanos que têm uma fraqueza pelo mundo, pelo próximo – e nisto, por um Deus que por seu lado também se tornou fraco e débil por todos.
Tal Deus poderá atravessar a massa do nosso pequeno mundo, não se deixando capturar por qualquer conceito de unidade ou de pregação; sendo a antiquíssima origem de tudo, é por seu lado presente, horizonte, custódio, consolação, espaço, exigência, incondicionalidade, aligeiramento do ser. Não se deve nem se pode falar d’Ele continuamente, nem nomeá-l’O incessantemente, como o fazem os pastores e a teologia.
Pelo contrário, mostra-se indirectamente no nosso proceder sapiencial, como garante longínquo e, ao mesmo tempo, próximo, como aquele que concede sempre e de novo a estupefaciente identidade do eu (por entre o derrubar de todos os horizontes, de todas as valorizações e de todos os conceitos do eu) e da coerência do mundo (não obstante e precisamente na sua multiplicidade e dispersão), da fidelidade das coisas e dos homens, e, enfim, como aguilhão, encitamento e protector da liberdade traçada (mesmo onde se perdeu), como conciliação de poder e amor, como acusação (o ser humano é de facto culpado, e lança sombras onde se encontra) e como perdão, poder e razão.
Pouco poderemos dizer sobre Ele, ainda que se tenha manifestado a si mesmo e se nos apresente em diversas perspectivas, se abra a diversas ópticas, se implique em mais pessoas e em realidades incomensuráveis, e se mostre sempre como aquele espaço no qual poderemos receber o ser sorrindo, no qual se manifestam as coisas e os mundos na sua rica multiplicidade de significados, onde tudo se torna e pode transformar em traços e ecos (do Logos), em dom e promessa.
Por fim, Deus será aquela realidade na qual se tocam, se compreendem e se elevam a irrepetível biografia pessoal e todo o destino comum, o kairós individual e o colectivo, onde a conversão possível de cada um à sabedoria significa a abertura no confronto com a realidade, a capacidade de consentir ao quanto é dado de transformação e inovação em cada momento da história.
Elmar Salmann, “Presenza di Spirito”, Assis 2011
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Este livro está traduzido em português ?
De momento não, apenas se encontra na versão italiana.